8 a 25 de Janeiro    

exposição de Fernando Sebastião, Filipe Garcia, Luísa Abreu e Tiago Cruz.




































Untitled from Painel on Vimeo


TEXTOS:





     Querer dizer aos outros o que nos vai no coração, e arranjar estratégias para
ocuparmos um lugar com sentido na cadeia de um grupo, não apareceu com
as redes sociais da internet. O “facebook” não foi a primeira malha de que
o Homem se serviu para se cruzar e relacionar com os outros.
     Numa galeria, num espaço considerado nobilitante, muitos exibem os
resultados das suas procuras – no caso presente, depois de testados e confrontados
entre colegas e professores no meio académico.
     Propõe-se que a Galeria Painel, seja o lugar onde, com mais maturidade,
seja mostrada e posta à prova a eloquência de estratégias de ligação:
     - A corrida atrás da estrela que se desfaz e tudo contamina;
     - A procura de um lugar cimeiro (num pódio que muitas vezes é um
obstáculo);
     - A interpretação e construção de algo que se constitui como um objecto,
que dá lugar e suporta os discursos dos outros;
     - O “tapete” onde se chega e aconchega os pés, tido como lugar de projecção
e de enfatização, como um écran de células estaminais que plasmarão
os nossos sonhos feitos discursos;
     - A membrana, écran também, onde reverbera o som das câmaras de
ressonância, dos corpos que somos e que dividimos em dois para ouvir em
estereofonia. O corpo feito tímpano, parede-mãe dessa árvore, que procura
a realidade pelo som;
     - Entre corpos procuramos a cesura, o que não é emoldurado, o que fi ca
de fora, o estrangeiro e, como um alfaiate, há quem teime em marcar, nem
que seja em pequenas indicações mnemónicas que em pó se vão perdendo;
     - Não precisamos de ir muito longe para nos podermos deslocar numa
viagem alucinante, bastam pequenas mudanças de escala em amostras do
nosso quotidiano postas em lâminas de observação, que se desdobrem em
mândalas de meditação sobre a nossa condição.

Fernando Pinto Coelho, Janeiro 2011



Fernando Sebastião



     A re-materialização - das coisas - como busca de sentido e/ou de diálogo,
que difi cilmente se evidenciaria, senão em recontextos de convivência. De
ressonâncias. De elasticidades entre interior e exterior.
     Afundam(se) mutam(se) agregam(se) duvidam(se) ramifi cam(se) desaparecem
emergem.
     Servindo-se dalguma incongruência relativa a outras operabilidades, à
tracção e contracção de contornos, a uma certa dose de espionagem que se
denuncia e que reclama algum tipo de despojo. De distanciação.
     Uma presença residual de cada uma e de todas, que entre em negociação
com o resto, procurando a possibilidade da não-tão-livre associação.

Filipe Garcia



     Whatshappening acontece num espaço onde a fronteira entre a participatividade,
o mapa e a consciência ecológica se tocam ainda que muito experimentalmente,
embora contenha já em si, o numerário que a vai fazendo acontecer.
     A ideia ganha forma de giz branco como uma imaculada linha desenhada
para criticar o aparentemente invisível, aos olhos de quem não quer ver,
é um processo de chamada ao inevitável, um diálogo de perspectivas que
constroem o registo do conjunto, ali presente, embora imperceptível.
     A abordagem é intuitiva, controlada apenas pelo constante devir da informação
que quer registar, a precisão de um movimento que é de todos.
     O caminho, esse que é construído, tem um encontro de proximidade
entre o desenho e a dança da procura do que aos olhos salta em assinalar,
pretende salientar através do que lá está, a ideia do que não deveria ser, e é
nesse defeito do não querendo, que se constrói o próprio trabalho pensado,
num tactear de efémeras inscrições.
     Não pretende ser nada a não ser o que é, uma pergunta consciente sobre
nós mesmos e o mundo que já não sentimos, um relatar em mapa bidimensional
da construção descuidada da esfera em que nos inserimos sem bem
percepcionar como o fazemos ou como o deixamos, quando partimos e
deixamos de ver.


Tiago Cruz


                                                                "A Estrela em Movimento"



5.86 metros por segundo

Após as Olimpíadas de 1980, que haviam sido boicotadas pelos Estados
Unidos da América e vários países do bloco capitalista, foi a vez da União
Soviética, Cuba, Alemanha Ocidental e demais países da Cortina de Ferro
e do mundo comunista boicotarem os jogos de Los Angeles de 1984. Neste
mesmo ano Portugal ganha a primeira medalha de ouro nos Jogos Olímpicos
por Carlos Lopes na prova de Maratona que tradicionalmente é o último
evento dos Jogos Olímpicos de Verão.

Estamos em plena Guerra Fria.

Como construir a identidade de um autor através da sua obra? E como fazelo
numa exposição colectiva? O confronto é inevitável. O poder encontra-se
nas possibilidades de uma narrativa.
     Não me ocorre outra ideia que não a de uma competição. A única diferença
é que esta está imune aos lugares que um pódio proporciona.
     Costumo trabalhar com os mecanismo de montagem de exposições até
que o tema da exposição é a própria exposição. Mecanismos de poder e de
guerra, de confronto. A precisão do acaso.

“A estrela em Movimento” é o nome que Robert Rauschenberg deu ao cartaz
que realizou para os jogos Olímpicos de 1984.

Quadro de medalhas dos Jogos Olímpicos de Verão - Moscovo 1980
Posição - País - Ouro - Prata - Bronze - Total
1 - União Soviética - 80 - 69 - 46 - 195
2 - Alemanha Oriental - 47 - 37 - 42 - 126
3 - Bulgária - 8 - 16 - 17 - 41

Quadro de medalhas dos Jogos Olímpicos de Verão - Los Angeles 1984
Posição - País - Ouro - Prata - Bronze - Total
1 - Estados Unidos - 83 - 61 - 30 - 174
2 - Romênia - 20 - 16 - 17 - 53
3 - Alemanha Ocidental - 17 - 19 - 23 - 59





Luísa Abreu



     Os micro espaços, a aproximação máxima de uma realidade criando outra. A
alteração e mutação do que dever ser estático para alcançar outras matérias
plásticas aproxima estranhamente o observador pelo fascínio do desconhecido,
da viagem sem destino, da deriva, pela perda total de referências.
     A apropriação de meios que extravasam os de um campo artístico tradicional
possibilitam uma diferente imaginação, lenta, agradável, hipnótica.
     A desordem ou o não cumprimento das regras fomenta um nova produção,
seja a inversão de escalas, a procura do erro ou a total inconsciência da acção.
     Podemos ser seres passivos por meio de mecanismos ou encontra-los pelo
acaso diário. Existe a necessidade de anestesia, total ou parcial.
     A capacidade de nos auto experienciarmos com a nossa própria matéria
orgânica , por meio de lentes que conseguem projectar a letargia de um corpo,
com detalhe, pormenor e minúcia, aumenta e desenvolve a concentração
focada, embora descentralizada da imagem pré-concebida.